Sinceramente? Vários motivos: aumentar meus horizontes; ser forçado a escrever mais; diploma; ter uma profissão definida; conhecer outras pessoas com as quais possa conversar sobre literatura e cultura em geral; fazer amigos; deixar minha mãe feliz por ter um filho universitário; a possibilidade de pedir por uma bolsa no exterior e ter direito a prisão especial para o caso de um dia precisar...
Alguns dos objetivos já foram conquistados, outros estão sendo. Já fiz boas amizades com as quais consigo conversas interessantes e minha mãe está contente. Quanto ao resto, estou na dependência do futuro. Minha atual angústia, ou talvez fosse melhor dizer ansiedade, é no quesito “aumentar meus horizontes”. Uma professora amiga minha graduada nessa mesma universidade, certa vez me disse: “Se um dia tu quiser deixar de gostar de ler, entra pra Letras.” Uma afirmação que agora faz algum sentido para mim. Os textos teóricos que certas cadeiras nos fornecem, dissecam tanto e tão friamente certas obras que eu chego a pensar se aqueles teóricos realmente gostaram das obras que leram ou se eles simplesmente tem tesão por destrinchar textos, dando importância secundária ao prazer de ler; a obra em si. Um recente acontecimento me deixou bastante chateado, quando no momento em que eu estava lendo alguns contos de Dickens, me peguei analisando o conto sem sequer tê-lo acabado. Isto acabou me tirando do ritmo da história, deixando-me distante e conseqüentemente, sem o prazer da leitura.
Bem, mas o motivo de eu estar falando isso tudo é que sou aspirante a escritor, sinto falta de uma cadeira de produção literária e de ler livros. A cadeira de produção textual do primeiro semestre talvez tenha sido boa para quem não está acostumado a escrever, mas para alguns de nós ela só serviu para nos obrigar a escrever textos com temas um tanto bobocas, mas que buscamos driblar com nossa criatividade. Devo confessar que alguns foram um desafio interessante, outros pura chatice. Mas de qualquer forma, faltou-nos um “feedback” maior por parte da professora, que carecia de sensibilidade e mesmo, de certa cultura literária. Não que eu possua muitos conhecimentos nesta área, mas embora não tendo lido centenas de autores, pelo menos já li algo sobre os próprios e suas obras. Quanto ao fato de “ler livros”, quero dizer ler livros por prazer, ou pelo menos ter a oportunidade de ter prazer lendo os livros indicados pelos professores. Infelizmente, o problema quantidade de livros/tempo de leitura inviabiliza esta oportunidade e só o que parece restar é a análise fria e obrigatória das obras.
Confesso que fiquei desapontado e embasbacado quando ouvi professores recomendando a leitura de obras em grupos (cada um lê um capítulo!) ou então indicando quais capítulos deveriam ser lidos (como se os outros de nada importassem!). Isso, simplesmente para cumprir com o programa estabelecido e fazer a análise ou teste sobre a obra o mais rápido possível. Acostumado a ler livros de uma orelha à outra, tentei no princípio, continuar com esse hábito. Algumas vezes logrei êxito, mas estou perdendo cada vez mais batalhas e já deixei para trás pelo menos cinco livros tendo lido não mais que 10% deles. Detesto largar livros incompletos! Somente quando acho-os ruins, e só fiz isso duas vezes até hoje.
O fato de também ter diversos outros interesses extra-universidade e também trabalhar dividem o tempo e o empenho que poderia dedicar a mesma se eu fosse como boa parte dos alunos. Meu interesse por cinema e meu recente pequeno sucesso com um filme, estão me fazendo voltar boa parte de meus esforços em projetos para novos filmes. Felizmente, isso não deixa de estar conectado com a escrita, já que escrevo roteiros tanto para os filmes quanto para histórias em quadrinhos (outro projeto).
Desse modo, o que eu estou fazendo aqui é tanto algo que eu posso responder simples e objetivamente - como fiz no primeiro parágrafo -, quanto algo subjetivo e um tanto vago que tomou vários outros parágrafos. Para minha sorte e provavelmente sua também, a questão só era pertinente à faculdade de Letras.
Porto Alegre, setembro de 1999.
Oi, Jerri!
ResponderExcluirMilhares de anos depois, me deparo com teu blog de novo, agora no painel do blogger mesmo, meio que sem querer.
Há muitos e muitos anos atrás (mas na verdade nem tantos), eu ganhei uma assinatura de um ano da Capricho, de uma dinda preguiçosa demais para sair comprando presentes para tantas datas especiais. E acontece que tua coluna passou rapidamente a ser minha preferida, assim como teu blog.
Mas eventualmente a assinatura acabou, o tempo passou, as coisas mudaram. E aqui estava eu, hoje, uma aspirante a escritora há mais tempo que deveria ser (provavelmente logo depois de desistir de ser espiã, veio essa ideia). E aqui estou eu, terminando um curso técnico que não envolvia nada do que eu gostava, pensando no que quero fazer.
Durante boa parte do tempo só pensei em fazer jornalismo. Mas então teve esse professor meu, que fez jornalismo e letras e me disse que nunca aprendeu nada em jornalismo. Mas só de ver as cadeiras de letras já me desanimo...
E em meio a esses pequenos e grandes dilemas do dia a dia, eu me deparo com um texto que me mostra, de certa forma, muitos medos que eu penso ter. Ou pelo menos algo parecido com eles. E o mais engraçado é ver que é um texto não muito mais novo que eu.
Me desculpe vir aqui, desabafar em um comentário do teu blog. Deus, se é que Ele existe, saberia que existem lugares mais apropriados. De uma forma geral, a ideia era simplesmente dizer que teu texto mexeu comigo. E que eu espero que ao longo desses quinze anos (até mais), desde que tu escreveu o texto, que tu tenha conseguido encontrar ao menos um pouco do que procurava. E mais algumas surpresas boas, porque elas sempre são maravilhosas de se encontrar.
Abraço de uma fã relapsa, mas ainda uma fã
Bibiana.