domingo, 31 de outubro de 2010

SEM FILHOS – 40 RAZÕES PARA VOCÊ NÃO TER - Crítica

Se você tiver muita sorte, seu filho só vai te explorar por 25 anos.

A autora

Corinne Maier é psicanalista e economista e seus livros são inspirados por Jacques Lacan, Roland Barthes e Michel Foucault. Foi apelidada de “heroína da contracultura” pelo New York Times depois do sucesso mundial da sua obra, BOM DIA, PREGUIÇA.

Odiada pelo sindicato de mães...

O livro

Bem, antes de mais nada, é bom saber, que apesar da piada acima, o assunto é muito sério, mas Maier consegue tratá-lo com um bom humor sarcástico e claro, não deixa também de ser um certo desabafo por ela mesma ser mãe de dois rebentos, que segundo ela, “Eles não se importaram e nem sequer leram. Eles leem coisas mais apropriadas para a idade deles.”

Numa atitude corajosa, Maier desafia o conceito cristão e milenar de que ser mãe é a melhor coisa do mundo, é “padecer no paraíso”. Longe disso, em capítulos curtos, diretos e debochados, ela demonstra com lucidez as 40 razões pelas quais as pessoas deveriam pensar não uma, duas, mas várias vezes antes de ter essa “espécie de anão cheio de vícios e com uma crueldade inata” em suas casas. Frase cunhada pelo escritor Michel Houellebecq e que dá título ao capítulo 12. Como se vê, esse livro está longe de ser simpático às criancinhas mimosas.

Ah, eles não são uns amores quando destroem a casa?...

Eu não tenho filhos, gosto de crianças e já ouvi muitas vezes que daria um bom pai, mas não tenho como saber, pois nunca tive que conviver com um criança 24/7 por anos à fio. Sempre peguei a parte mais fácil de simplesmente brincar, dar presentes e muito raramente, uma conversa mais séria.

Mas não preciso ser pai para saber que a maioria dos adultos não sabe educar ou criar bem uma criança. Quer uma prova? O mundo e as pessoas do jeito que são. Você sinceramente acha que o mundo seria essa falta de educação, desrespeito, corrupção e violência (em qualquer nível) se as pessoas tivessem sido bem educadas e respeitadas para se tornarem adultos bacanas?

Como a maioria das pessoas adultas que conheço são confusas, estressadas, ignorantes, inseguras e perdidas em maior ou menor grau, vou ter que deduzir que isso tem alguma coisa a ver com o ambiente familiar e isso me diz que os pais deles não eram muito melhores do que isso e que os filhos destas pessoas adultas que conheço vão mais ou menos perpetuar isso. Engraçado que todo pai e mãe no mundo acha que seu filho é o mais lindo, o mais inteligente, o mais, mais em tudo.
Então dá pra se perguntar: de onde vem tanta gente feia, fracassada e ignorante? Bom, eles não se criaram sozinhos, não é?! E como semente ruim gera semente ruim, o ciclo se perpetua até que ocorra uma mutação genética, ou no caso humano, alguém da família perceba esse círculo vicioso e destruidor e resolva mudá-lo de alguma forma. Mas não tenha muitas esperanças de que o seu filho ou sua família é a que vai dar certo: lembre-se que bilhões já tentaram e quase ninguém foi bem sucedido. Conheço famílias muito bacanas que conseguem manter um relacionamento razoavelmente saudável e alegre na maior parte do tempo, mas que quando se conhece melhor, tem sempre algo mal resolvido.

Odediência garantida! Trauma também.

O leitor vai perceber logo no início do livro, que ele é voltado para uma realidade de Primeiro Mundo, mais especificamente, a francesa, onde o governo premia em dinheiro casais com mais de 1 filho na tentativa de aumentar a população numa tentativa patriótica e estúpida de manter sua língua e a cultura viva, como se ela corresse um risco real de morrer a curto prazo.

De acordo com a autora, com o aquecimento global e a desaceleração econômica que pode ocorrer com isso ou pelo fato dos governos finalmente resolverem diminuir a exploração dos recursos naturais, a grande maioria de nossos filhos e netos estarão fadados ao desemprego crônico e a um mundo muitas vezes mais poluído e perigoso do que o de hoje. Ou seja, cada criança posta no mundo é mais uma pisada no acelerador rumo ao desastre ecológico. Basta pensar por alguns segundos na quantidade de lixo, e energia e água que cada um de nós produz e gasta diariamente.

É, eles não vão herdar um mundo melhor do que o nosso, não.

Continuando, a autora coloca em pauta assuntos como:

1) A ingenuidade a ignorância de meninas e mulheres que querem ter filhos por puro impulso biológico, salvar um relacionamento ou pelo mais egoísta dos motivos: não querer ficar sozinha. A única coisa real aqui é o instinto de ter filhos, mas sempre é bom lembrar que esse impulso é algo para o qual você vai ter que dar o resto da sua vida e sem retorno algum garantido. Filho é apenas filho e mais nada.

2) A conformidade da criança e do adolescente na sociedade e em sempre querer ser uma “outra pessoa” ou “crescer” para daí então ser “popular” ou “aceita”. Neurótica, a criança “cresce” para ser um adulto neurótico que dificilmente será realmente popular ou aceito fora de seu círculo familiar e de amigos.

Olha que cut-cut que era o Adolf Hitler!
Com pais de merda, criança cresce para ser adulto mais merda ainda.

3) O filho acaba com seus sonhos de juventude. Muitos pais desistem de um sonho para se sacrificar pelos filhos que nada pediram e que no futuro vão ter que ouvir acusações dos pais hipócritas que não tiveram coragem de seguir seus sonhos. A sociedade criou essa mentira deslavada de que os filhos são a continuação dos pais, o que faz com que os pais achem que os filhos devem realizar seus sonhos frustrados, que no meu caso particular, era ser jogador famoso de futebol e dar a volta ao mundo. Então, se você tem um sonho, corra atrás com filho ou sem, mas nunca jogue nele a responsabilidade pela sua falta de coragem ou talento.

4) Crianças de Primeiro Mundo são parasitas do mundo e consomem e poluem 10 vezes mais que uma criança de classe média baixa de um país como o Brasil. O problema nem é o excesso populacional no mundo, mas o excesso populacional nos países ricos.

Bem, isso é 10% do que o livro trata, existem outros assuntos mais polêmicos, engraçados e patéticos do que esse que mencionei aqui para dar um gostinho. O parto é uma tortura; não se tem vontade de fazer sexo tendo em volta o alvoroço de pirralhos brigando; crianças custam caro; as famílias são um horror; ser mãe ou ter sucesso: é preciso escolher; quando o filho aparece, o pai desaparece; são alguns deles.

Bem, apesar de tratar de uma realidade francesa, ela é basicamente igual a boa parte da realidade das classe A, B e C do Brasil e para quem pertence a essas classes, SEM FILHOS deveria ser leitura obrigatória. Já para a maior parte das mães e pais das classes D e E, eles ainda vão continuar criando seus filhos no estilo de seus pais: com muita porrada e colocando para trabalhar assim que conseguem andar. E seus filhos farão o mesmo com seus netos, como sempre foi.

Esse livro, longe de ser um livro para solteiros ou casais sem filhos, deveria ser lido pela família toda, em especial por adolescentes, que a partir dele, finalmente teriam uma visão realista e honesta do que suas vindas causaram e causam aos seus pais. E também do que os seus pais estão fazendo com eles. Tendo uma relação boa, razoável ou péssima com eles, o livro até poderia ajudar eles de alguma forma a cortar esse círculo vicioso de pais e filhos rancorosos uns com os outros, não importando a idade da pessoa, pois conheço pessoalmente tanto pré-adolescentes quanto adultos de mais de 60 anos que ainda tem problemas afetivos com os pais e vice-versa.

E pra não dizer que sou parcial, deixo abaixo um link da revista PAIS & FILHOS onde uma jornalista dá 40 razões para ter filhos. Achei quase todas sentimentalóides, burras e irracionais e me deu uma vontade louca de comentar uma por uma só para desmontar os argumentos dela. Mas claro, a mulher sempre pode apelar para o “amor de mãe”. O que na verdade, não passa de puro instinto protetor que em nossa espécie acabou se prolongando por tempo demais graças a pressão da sociedade cristã.

40 razões para ter filhos


Capa do livro.
A criança é uma raposa disfarçada?

Trecho

Capítulo 12 – “A criança é uma epécie de anão cheio de vícios e com uma crueldade inata” – Michel Houellebecq

Jean-Jacques Rousseau moldou a visão que temos da criança. Esse autor, que, no entanto, se livrou dos próprios filhos, entregando-os para adoção, celebrou com sensibilidade a aliança entre a criança e o selvagem. Tanto um quanto o outro viviam em comunhão imediata com as coisas, na apreensão da verdade, numa pureza que a civilização não teria afetado. (...)

(...) Muito meninos e meninas entrevistados na televisão confessam ter desejo de ficar grandes e fortes para se vingar de professores e professoras, bater nos colegas e até mesmo matar figuras de autoridade, pais e dirigentes da escola. (...)

(...) Lembre-se de sua infância. Colegas que debochava de você, roubavam sua merenda e bolinhas de gude, falavam mal de suas roupas, deixavam claro que você não tinha “estilo”. Uma criança só pensa em roubar o brinquedo de outra, humilhá-la em público, bater. (...) Leram o SENHOR DAS MOSCAS? O edificante livro conta a história de crianças que chegam a uma ilha deserta e acabam matando umas às outras. Isso acontece no mundo real, com freqüência cada vez maior, e às vezes perto de sua casa. Em fins de dezembro de 2006, um aluno de 12 anos foi morto na cidade de Meaux, a pontapés, por dois colegas de 11 anos. Alguns meses antes, uma espanhola de 13 anos foi espancada por três meninas da mesma sala de aula, a ponto de ter a perna direita fraturada em vários lugares. Senhor, perdoai essa infância.

A criança é um lobo para a criança. (...)

Quer comprar?

Novo - Clique nos banners do Submarino ao lado.

Usado


Boa leitura.

sábado, 23 de outubro de 2010

ILHA DAS FLORES (Brasil, 1989) – Curta




ILHA DAS FLORES foi um dos primeiros curtas brasileiros que soube utilizar uma linguagem documental, pop, contemporânea e sarcástica para contar a história da humanidade através de uma comunidade pobre em Porto Alegre.
Tendo recebido dezenas de prêmios nacionais e internacionais, a crítica européia elegeu o filme como um dos 100 curtas mais importantes do século XX e diversos cineastas se inspiraram em sua narrativa estética peculiar, que também buscou influência nas animações de Terry Gilliam para o Monty Python.
Ele também está listado no livro 1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER, De Steven Jay Schneider.

O cineasta e roteirista Jorge Furtado é gaúcho e realizou diversos bons curtas como O DIA EM QUE DORIVAL ENCAROU A GUARDA e BARBOSA. Infelizmente nenhum de seus longas, entre eles O HOMEM QUE COPIAVA e MEU TIO MATOU UM CARA, chegou à altura da narrativa de seus curtas.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

CAPRICHO 1004



Teste

SEU CANDIDATO A PRESIDÊNCIA É HONESTO?

1. Você vai no comício dele e no empurra-empurra pra chegar perto , você perde sua bolsa com todos os seus documentos, dinheiro e aquela pulseira linda que você tinha acabado de comprar e....

a) No outro dia o próprio candidato te liga dizendo que está com sua bolsa e quando você vai pegar, toda a imprensa está lá para filmar ele entregando-lhe a bolsa.

b) No outro dia você vê no horário político o candidato reunido com a família e a filha adolescente dele está com sua bolsa e usando a sua pulseira!

2. Acusam a sua candidata de ter milhões de dólares em um paraíso fiscal no Caribe. Ela...

a) Se defende dizendo que só vai lá para firmar acordos financeiros com o governo local.

b) Acusa o candidato adversário de ter forjado sua assinatura, uma conta falsa em seu nome e lá ter depositado esses milhões de dólares.

3. Em um cargo público anterior, seu candidato tentou...

a) Passar uma lei que legalizava o consumo de maconha.

b) Passar uma lei que tornava ilegal o consumo de alcóol e cigarro.

MAIS A

Corrupto! Ele te devolveu a bolsa, mas quando você chegou em casa, se deu conta que ele pegou todo o dinheiro que estava dentro. O acordo financeiro que ele faz no Caribe é para não deixar o governo brasileiro pegar o dinheiro de volta e ele queria legalizar a maconha porquê sabe que jovem chapado não vota direito e assim ele ganharia as eleições.

MAIS B

Mais corrupta ainda! A própria filha dela lhe roubou a bolsa, coisa que aprendeu com a mãe. Ela tem conta no Caribe e está fazendo estardalhaço para ver se dá tempo de fugir e ela quer tornar tudo ilegal, porquê assim cigarro e álcool também passam a ser traficados e ela ganha mais grana com os sócios que moram lá no morro.


Jerri Dias não acredita em político honesto.


sábado, 16 de outubro de 2010

Putzgrila Rock n' Movies - Filmes para Você Ouvir - Rádio Web

Cartaz de UM SOM DIFERENTE (EUA,1990), com Christian Slater, onde ele faz um radialista pirata.
O filme tem uma trilha sonora excepcional.

O programa Putzgrila Rock n' Movies - Filmes para Você Ouvir faz parte da programação da rádio web PUTZGRILA, uma das poucas rádios nacionais da web com programas criados e discotecados por radialistas ao vivo. E outra característica bacana da rádio é que ela é exclusivamente dedicada a rock de verdade! Ou seja, nada de “Happy Rock”!

E como diz o título, o Putzgrila Rock n’ Movies só toca trilhas sonoras bacanas com pegada rock’n’nroll.

O programa vai ao ar todas as terças e quintas, das 12:00 às 13:00 horas.

Nas terças, o programa rola com uma temática específica, onde os ouvintes poderão escutar sinopses, histórias, críticas e curiosidades sobre os filmes escolhidos pela produção.
E nas quintas, as trilhas sugeridas pelos ouvintes rockeiros cinéfilos!

Rock’n’Movies é apresentado por Jess Rose, compositora e musicista, figura marcante no meio underground de Porto Alegre.
Idealizadora do Projeto Obscure S.A., desenvolveu na cidade diversas atividades de fomento à cultura alternativa, especialmente ao rock.

E a partir de agora, você pode escutar a rádio direto aqui deste blog pelo player no alto da página.


ENQUANTO ISSO...

Você se acha ecologicamente correto? É porque ainda não tomou as seis atitude ecológicas radicais!

E para variar, um post sobre as origens dos ditados populares lá no blog da CAPRICHO.



terça-feira, 12 de outubro de 2010

BAUHAUS - Vídeo Clip


Clip de Telegram Sam, 1980.

A BAUHAUS foi uma banda inglesa fundada na Inglaterra. Composta pelo guitarrista Daniel Ash, o baixista David J e o baterista Kevin Haskins, eles realizaram performances como trio até a entrada de Peter Murphy no vocal.

Nascida do descontentamento social pós-punk, a banda tinha características deste movimento musical, mas criou uma sonoridade nova, mais de acordo com a guerra fria e cortina de ferro e da crise econômica britânica que apelava para a ausência de cores, já que o futuro parecia negro. A despreocupação estética do punk deu lugar a uma nova valorização de estilos e conceitos neo-românticos e depressivos como fuga da ausência de conquistas sociais. A idéia da BAUHAUS era satirizar elementos do Expressionismo alemão, buscando uma analogia performática aos filmes de horror, especialmente os de vampiro. Inspirados por DRÁCULA, criaram a canção Bela Lugosi's Dead, que acabou fazendo com que fossem considerados um dos fundadores do rock/punk gótico. A voz cavernosa de Peter Murphy contribuiu para o culto da banda. Em 2008 os Bauhaus lançaram um novo álbum, "Go Away White", que disseram ser o último da banda, que agora, estava sendo desfeita pela terceira vez.

sábado, 9 de outubro de 2010

CAPRICHO 1003


10 MOTIVOS PARA VOCÊ COMPRAR O LIVRO “ASSUNTO DE INIMIGA”!

1. Porquê fui eu que escrevi, depois de muita pesquisa na Internet roubando textos de outras pessoas!

2. Porquê é literatura de alta qualidade para se ler no banheiro, além de ter páginas macias e picotadas em caso de faltar papel higiênico!

3. Porquê ele é baratinho e você só vai precisar ir para a escola a pé, ficar sem ir ao cinema e ao MacDonalds por um mês para guardar o dinheiro!

4. Porquê tem desenhos maneiros do Nik, que é meu amigo de longa data e que me emprestou 20 paus uns anos atrás e agora, com esse livro, acho que vai dar para pagar ele!

5. Porquê depois que você ler pode usar ele como calço para a sua cadeira ou mesa que está em falso!

6. Porquê você pode dar ele de presente para a sua amiga semi-analfabeta “i ki ixkrevi axim” que ela não vai ler mesmo e depois você pega emprestado e nunca mais devolve!

7. Porquê todas as dúvidas que todo adolescente normal tem, do tipo “Deus existe?”, “O Infinito tem fim?”, “Será que vou para o Inferno porquê botei chifre no meu namorado?” e “Será que um dia eu vou conseguir um namorado que não seja galinha?” são respondidas nesse livro que acumula toda a sabedoria humana acumulada por velhos sábios que passaram a vida toda numa caverna lendo a Bíblia e a CAPRICHO!

8. Porquê depois que você ler você pode vender ele para um sebo de livros usados e trocar por uma revista usada de palavras cruzadas ou comprar um chiclete com o que vão te pagar por ele!

9. Porquê se você não comprar, você quebra a corrente. Uma menina de 15 anos que mora em Sapiranga-RS, não quis comprar e o namorado ficou com a irmã dela, os pais se separaram e ela ficou grávida sem nunca ter transado e teve quadrigêmeos, todos com síndrome de Down!

10. Porquê se esse livro vender bastante, eu fico rico e quem sabe eu não te empresto uns trocados para você comprar um cachorro-quente lá na carrocinha da esquina?

Jerri Dias é o novo Machado de Assis.


Leia as primeiras 20 páginas aqui.

E para comprar um exemplar com cheirinho de novo, clique nos banners do Submarino ao lado.

Exemplar com cheirinho de mofo, você encontra aqui.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

GANHEI CORAGEM - Crônica


Rubem Alves (1933 - ) é psicanalista, educador, teólogo e escritor. Autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.

Se gostar da crônica, não deixe de visitar a A Casa de Rubem Alves para ler muitas outras.

GANHEI CORAGEM

“Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece“, observou Nietzsche. É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo. Albert Camus, ledor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora quando a coragem chega: “Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos“. Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem. Vou dizer aquilo sobre que me calei: “O povo unido jamais será vencido“: é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o “povo“ tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo... Não sei se foi bom negócio: o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de televisão que o povo prefere.



A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse, na montanha, para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro. Voltando das alturas Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os 10 mandamentos. E há estória do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante a amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou... Passado muito tempo Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos... E que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: “Agora você será minha para sempre...“ Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus. Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta. Mas sabia que ela não era confiável. O povo sempre preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhes contavam mentiras. As mentiras são doces. A verdade é amarga. Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos o circo era os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram. Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo. O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos. Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro O homem moral e a sociedade imoral observa que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se “responsáveis“ por aquilo que fazem. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas. Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo, tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival. Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo. Meu amigo Lisâneas Maciel, no meio de uma campanha eleitoral, me dizia que estava difícil porque o outro candidato a deputado comprava os votos do povo por franguinhos da Sadia. E a democracia se faz com os votos do povo... Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói o ideal da democracia. Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições – e a democracia - são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é o ideal democrático, que eu amo. Outra coisa são as práticas de engano pelas quais o povo é seduzido. O povo é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham. Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus Cristo foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante a Revolução Cultural na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar. O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer. O mais famoso dos automóveis foi criado pelo governo alemão para o povo: o Volkswagen. Volk, em alemão, quer dizer “povo“...

O povo unido jamais será vencido! Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos... Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio, não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol (tive a desgraça de viajar por duas vezes, de avião, com um time de futebol...). Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e engolir sapos e a brincar de “boca-de-forno“, à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: “Caminhando e cantando e seguindo a canção...“ Isso é tarefa para os artistas e educadores: O povo que amo não é uma realidade. É uma esperança.

Folha de São Paulo, 05/05/2002


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

OLDBOY – Trailer



Oldboy é um filme do diretor coreano Chan-Wook Park, um dos melhores diretores asiáticos surgidos nesta década. Seus filmes são impactantes, poéticos e cruéis ao extremo.

Dae-Su, um homem comum de 30 anos, é raptado mantido em cativeiro privado sem saber o motivo. Quinze anos depois ele é libertado e tem 5 dias para descobrir o porque de sua prisão antes de ser morto.

Um roteiro excepcional baseado em um mangá, uma fotografia primorosa e um plano seqüência de uma luta que já entrou para a história do cinema, OLDBOY não é recomendado para pessoas ingênuas...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

CAPRICHO 1002


Depois da reportagem sobre as Melhores Escolas do Mundo...

A PIOR ESCOLA DO MUNDO!

6:00 – Que acordar o quê?! Essa hora já tem que estar na escola, fazendo fila no pátio para cantar o Hino Nacional, o Hino Estadual, o Hino Municipal e o Hino da Escola!

6:20 – Todo mundo na sala de aula, rezando o “Pai Nosso”, “Ave Maria” ou qualquer outro tipo de reza, de acordo com sua religião! Os ateus ficam em um canto escuro, ajoelhados no milho, esperando os outros acabarem de rezar!

6:30 – Duas horas de aula de matemática! Uma hora só para resolver as equações e exercícios de trigonometria!

8:30 – Duas horas de Português! E prova surpresa com redação sobre a Política Brasileira valendo metade da nota!

10:30 – Hora do intervalo. Tem que aproveitar para ir ao banheiro e fazer o Nº 1 e o Nº2, pois durante a aula não pode! E não adianta querer usar o celular, pois todos são confiscados na entrada da escola e devolvidos só no final do dia!

10:35 – Duas horas de Química! E sem laboratório, que essa escola não tem dinheiro para essas coisas! Fica todo mundo decorando tabela periódica!

12:35 – Hora do almoço. Agora dá pra relaxar um pouco e conversar com as amigas, afinal a aula só começa daqui há 10 minutos...

12:45 – Duas horas de Educação Física! Bom para baixar a comida do almoço e para vomitar! Nada de vôlei ou futebol! Sequências de abdominais, apoios e 100 voltas ao redor do pátio ou até cair de cansaço! Mas quem cai de cansaço antes de 99 voltas, leva chute nas costelas do professor, para aprender a não fazer corpo mole!

14:45 – Duas horas de aula de História. Decorar datas e nomes de gente morta é do que esse país precisa, portanto, os livros da escola vêm especialmente preparados sem nada daqueles longos textos sobre guerras, personagens e descobertas, só datas e nomes!

16:45 – Hora do Intervalo! Você tem que escolher entre ir ao banheiro ou comer alguma coisa, os dois não vai dar.... Mas a maioria dos alunos fazem seus lanches sentados na privada e na fila do banheiro!

16:50 – Duas horas de Física. Prova. E para garantir que o aluno sabe, a prova é feita no quadro-negro, e um à um, todos os alunos vão lá para a frente responder tudo sob os olhares dos colegas. O professor corrige na hora e os alunos que não conseguem uma boa nota, são colocados no Canto da Vergonha, na frente da classe.

6:00 – Não, não é imaginação sua! Agora são 6 da manhã novamente, pois a Escola tem uma Máquina do Tempo que permite jogar os alunos direto para o próximo dia de aula, sem que eles precisem ir para as suas casas nunca mais! Agora se ajeita que tem que cantar o Hino Nacional!

Jerri Dias já repetiu de ano.



1.000 SEGUIDORES!


Beleza, já da pra começar um seita...