Casais deveriam, a princípio, ser companheiros, parceiros e sócios na vida. Onde decisões importantes deveriam ser tomadas em conjunto e onde decisões e desejos individuais fossem respeitados pelo outro.
Mas devido a falta de Inteligência Emocional da maioria das pessoas, não é bem assim que acontece.
O individualismo moderno tem dificultado até mesmo acordos simples entre casais.
Na época de nossos avós e em certa medida, na de nossos pais, quem costumava dominar a relação em sua maior parte era o lado masculino por conta da cultura machista bastante dominante. As mulheres tinham pouca voz em decisões importantes que não fizessem respeito aos filhos ou a manutenção da casa. Já nas últimas décadas a mulher tem assumido cada vez mais espaço no mercado de trabalho e até mesmo se tornado maioria em muitos cursos universitários. Esse lado positivo da luta feminista, infelizmente cresceu junta à uma cultura capitalista que incentiva cada vez mais o consumismo (de coisas e pessoas) e o individualismo.
Esse individualismo que cresce cada vez mais parece estar afetando bastante, de forma positiva e negativa, a formação e manutenção dos casais. No fim das contas, talvez seja o capitalismo que acabe destruindo a família (diferente do socialismo ou dos gays). Positiva, porque com a liberdade financeira que muitas mulheres adquiriram, elas não precisam mais se sujeitar a ficar com qualquer um. Negativa porque graças a facilidade de se descartar as pessoas, tanto homens como mulheres, desistem rapidamente de relacionamentos que não se encaminham do jeito que cada um quer. Cada um quer manter o seu poder de forma constante dentro da relação, sobrepor seu individualismo sobre o do outro e não admite que seu ego seja desafiado.
Tudo piora quando o dinheiro é usado como moeda de troca/abuso dentro da relação.
E na questão financeira talvez tenhamos a mais vil das formas de relação de poder entre um casal. Porque a torna (ou pode tornar) quase uma relação entre patrão e empregado. E ninguém gosta de viver em casa a mesma situação de subserviência que vive no trabalho, sendo cobrado ou mesmo com medo constante de perder o relacionamento. Não é à toa que muitas mulheres se separam de seus maridos após passarem em um concurso público onde sabem que terão renda garantida pra toda a vida.
Existem casais cuja relação de poder financeira consegue ser equilibrada. Seja porque ambos ganham mais ou menos o mesmo salário, seja porque existe amor/acordo/companheirismo suficiente entre ambos que permite que o outro fique tranquilo quanto ao fato de ganhar menos ou mesmo estar desempregado em alguns momentos da vida. A chave é que ambos saibam que um sempre buscará amparar o outro. Afinal, um dos motivos psicoemocionais para buscar uma relação é justamente se sentir protegido e poder confiar na pessoa amada.
É possível voar junto.
Mas ambos tem que querer.
No entanto, esse tipo de caso parece ser mais exceção do que a regra, pois é comum que muitos de nós já tenhamos estado em uma ou mais relações onde pode ter usado o poder financeiro para barganhar ou mesmo exigir coisas do parceiro. Ou tão ruim quanto, tenha estado do outro lado da moeda, onde foi chantageado ou se submeteu por livre e espontânea vontade porque era necessário naquele momento. Esse é um comportamento doentio da nossa cultura, onde é muito comum o macho da nossa espécie cobrar favores sexuais porque pagou uma janta ou drinks na balada. E embora muita gente esteja se dando conta de que isso é realmente idiota, ainda é bastante comum que a maioria das mulheres aceitem e se submetam à isso. Infelizmente o inverso também é verdadeiro com mulheres que pagam, embora aconteça menos. A exigência das mulheres não vem necessariamente com favores sexuais, mas com um sentimento de posse.
Aparentemente, a ideia que passa na cabeça dessas pessoas é que se pagou algo para o outro, o outro é considerado comprado e agora é seu. A tal cortesia do "estou te convidando", na grande maioria das vezes, só vale mesmo se for entre amigos onde não haja interesse sexual.
Mas em alguns raros casos, a relação de poder financeira entre um casal pode ser tão sutil que mesmo parecendo boa, um dos cônjuges pode se ressentir tanto da situação de dependência do outro ao longo dos anos que pode um dia se cansar disso e não ver solução senão sair daquela relação, mesmo sem que nada realmente grave tenha detonado o gatilho para justificar a separação. Nesse caso, o conflito é interno de apenas um dos membros do casal, que por orgulho ou ego não consegue desatar esse nó dentro de si e só vê saída deixando o outro.
Quando o relacionamento chega ao ponto de literalmente escravizar o outro.
Eu poderia falar de outros níveis de relação de poder dentro de um relacionamento, mas eu queria mesmo era falar da questão financeira mesmo, porque isso afetou muito a minha vida e vejo acontecendo muito com amigas e conhecidos. E de qualquer forma, tem outros textos muito bacanas sobre o assunto e que aprofunda mais os outros tipos de relações de poder dentro da relação. Leia no link abaixo o divertido e perspicaz ensaio de Anderson Yankee.
OS JOGOS DE PODER EM RELACIONAMENTOS CONJUGAIS: SOBRE AS PESSOAS QUE TÊM A NECESSIDADE DE SE SENTIREM SUPERIORES
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