terça-feira, 30 de março de 2010

A VIDA ESPANCA DOCEMENTE - Blog Convidado

Confesso que foi bem complicado escolher um texto do blog da minha amiga Fernanda Petit.

Seus textos são tão intensos, líricos, românticos, melancólicos, confessionais e tristes que é impossível não se apaixonar por eles.

A Petit é atriz e já trabalhou em várias peças e curtas produzidos em Porto Alegre e todo mundo da área (re)conhece ela, mas seu talento literário é algo que ainda vai dar muito o que falar.

Quer uma referência pros textos da Petit? Clarice Lispector! Pronto, falei!

E se quiser conhecer o lado cômico da Petit, assista a minissérie PÉ NA PORTA aqui no blog, onde ela interpreta a patricinha Aline.

E claro, não deixe de visitar o blog dela.





À deriva: no mar



Eu gostaria de poder estar no mar

mesmo não sabendo nadar

e boiar...

Deixar que as ondas do mar acalmem meus ouvidos

ou entupam eles com a água do mar.

Até que a água do mar chegue dentro do cérebro

e limpe com o sal

tudo que machuca e preocupa



possivelmente água do mar

você

arderá as pequenas feridas

que se alojam no meu coração



Mar

eu não sei

se é bem no coração,

mas desde pequena me ensinaram que era ali que se instalava o amor e as paixões



Eu queria estar no mar

mesmo detestando o mar,

mas sei que ele me acalmaria

eu ouviria de longe as crianças brincando na areia e catando tatuíras e gritando de medo delas.

Ouviria o corneteiro vendendo picóles

Meu corpo boiaria e teria um homem

tocando piano pra mim na praia.

E a música do piano chegaria aos meus ouvidos

misturada pelo barulho da água do mar



Eu não sei nadar

e talvez sempre afunde

e talvez por isso me sinto afundada agora.

Eu pus uma bóia nos últimos tempos nas costas

para poder flutuar meu corpo na água do mar

Só que a bóia furou

bateu nas rochas do mar

enquanto eu estava ali: curtindo o sol leve

que batia na água e em mim

Eu distraída de olhos fechados

escutando o moço que de longe tocava o piano

não vi a bóia estourar

No momento que a bóia estourou

eu fui para o fundo

com um susto súbito.

Só voltei ao começo do mar

voltei a ver a luz do sol novamente,

pois uma sereia me pegou pelas costas

e me fez retornar



Agora estou eu: À deriva

boiando neste mar

o pianista tocando

e uma espécie de água saindo dos meus olhos

É salgada como água do mar

só que água do mar é beleza demais

e o que sai dos meus olhos é doloroso demais.

E a praia de repente ficou vazia

e as crianças levaram seus baldes com as tatuíras

para as verem morrerem mais tarde

Os vendedores de picóles foram para suas casas

contar quantos picolés de limão ainda existem

e dão de presentes para seus dois filhos, picolés de uva, os seus preferidos

Pois picolé de uva

suja a roupa ao lamber

e mancha

e ao manchar

a mãe vai lavar os pequenos trapos de roupas

e eles se sentirão amados

por que sua mãe se importa em limpar suas pequenas manchas de infância





Será que alguém pode me tirar da água do mar?

Será que alguém pode entender que não é carência?

Que não tem filosofia que explique

Será que alguém pode entender que eu não escolhi instalar um sentimento dentro de mim



já passou tempo demais

e meus braços se acostumaram a ficar abertos ao lado

parecem estáticos

Meu corpo está estático

eu não afundo

eu só bóio

e o sol está indo embora

e o pianista não sabe mais que música tocar



Eu sei que meu pai

está lá

numa cadeira de praia listrada azul

Com seus óculos de sol

e os cabelos grisalhos bem penteados,

pelo pente brega que ele guarda no bolso

Eu queria pai

que você me avistasse no mar

me colocasse no colo

e me perguntasse:

- Que foi,pequena?

Eu diria:

- Nada pai, nada.

e você diria como sempre:

- Isso passa, pequena!

Gostaria de poder te dizer

que eu não fui machucada de novo por outro garoto

que eu não me questiono se sou eu o defeito de tudo

que eu sinto saudades apertadas durante o dia

que eu sinto saudade da paisagem que eu nunca vi daquele quarto dele escuro

do gato mesclado

que eu não sinto falta do xampu Frutics que cheiravam seus cabelos

nem do ar envergonhado que ele tinha ao encher de beijos sua face

nem da camiseta branca que combinava tão bem com aquele corpo

nem das coisas engraçadas, que ele fazia meu estômago ter cócegas

nem do vermelho de suas bochechas, elas ficavam assim e eu nunca perguntei o por que



é pai

eu sinto um vazio

como uma concha que perdeu o molusco



E se eu te disser papai

que há um garoto

na beira do mar

com os pés fincados na areia molhada.

Sendo iluminado ,apenas pela luz da lua

e eu não sei pai, quem ele é

sei que ele é um presente da lua

e ele está lá me olhando

e ele quer muito pai

vir me buscar

só que ele tem os pés fincados demais na areia molhada.

E as mão fechadas demais de medo

e ele olha

e contorce os lábios

e ele carrega uma correntinha de mãe no pescoço

e ele não que crescer papai

pelo menos não ao meu lado.

Ele quer ficar só observando

e esperando que eu fique bem



Só desejando junto à lua

que eu fique bem



E dentro dele pai

mora uma festa de mentira (eu acho)

e ele se enche de risos de garotas sereias

elas beijam seus lábios, pai

e seu sexo fica duro

mas ele não amolece o coração

Eu sinto que uma água salgada ,como as que saem dos meus olhos

saem dos olhos dele também.

Quando ele decidi

repousar a cabeça na espuma das ondas

quando ninguém o vê, pai

ele deixa cair dos olhos, a mesma água salgada que saem dos meus

e ele se esconde na noite, pai

se esconde no meio das garrafas

no meio das pequenas pílulas que trazem alegria

e ele se esconde de mim

e ele se afasta

e só me observa

ao longe

desejando que tudo fique bem



Então papai

quando ele não tiver mais medo

ele vai entrar devagar no mar

sem me assustar.

Repousará o corpo no mar, igualmente o meu

e boiará junto comigo

e nossas mãos se tocarão

e a música do piano tocara mais alto.

Se ele tiver medo ainda, pai

ele pode gritar meu nome

e apenas diga:

- Venha, pequena.

Eu sairei daqui do mar que bóio

e serei coberta pela toalha, da qual ele enxugará meu corpo molhado.

Enxugará meu rosto, que se mistura com água do mar e dos olhos

e ele beijará meu colo pai

e o meio das minhas pernas

e minha testa

e abrira suas mãos tão fechadas

pegará a minha mão murcha já da água

e a aquecerá

E deste aquecer

chegará até meu coração, pai

o meu coração irá se aquecer

e a praia e o mar, pai

ficara só com a lembrança

de uma garota de vermelho

que boiou por muito tempo lá

nas águas do mar







14 comentários:

  1. LIndooooo....

    Nossa ela escreve hiper bem!!!


    Visita meu blog: www.borboletasnopote.blogspot.com

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  2. nussa o blog da sua amiga me parece muito legal ;D
    depos vou la ver ;D
    o seu blog hoje tah maravilhoso ;D
    eh a imagem eh o poema td combinando e perfeitamente bons (:
    beijões :*

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. ameeeeei esse texto, mto boom
    adoro seu blog ;D

    visita meu blog: http://emanuelesantiago.blogspot.com/

    beijos ;*

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  5. Nossa, muito bom, mesmo.
    Me senti completamente levada e tocada pelas palavras dela.

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  6. Nossa.. se eu disser que tô sem palavras, não estarei mentindo! Gostei do texto.. me causou algum impacto que eu ainda não sei descrever, mas um dia consigo.
    Enfim, já conhecia a Fernanda pelo Pé Na Porta e alguns curtas, mas confesso que não sabia desse outro talento! A menina leva jeito pra coisa, e muito.
    Jerri querido, quase certo que vou a Porto lá pelo dia 26 ou coisa parecida..vou assistir Alice em 3d. hahaha Mas enfim, assim que chegar perto da data, te mando um e-mail confirmando e já pego teu número pra combinarmos algo!
    Beijo,
    K.

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  7. que bonito.
    amei muito o texto.
    beijos

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  8. nossa,, mto lindo.. ela escreve mto bem...
    e tbm ke sentimentos.. chorei ateh..
    mto lindo

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  9. Amei é lindo, sensaciona!!!
    Jerri vc é de++++++ amo seu blog, com seus textos me sinto super bem, vc me diverte e...Bjs Amanda

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  10. Own *-*-*
    Mtu linds.. Já ouvi falar dela siim (:
    Beijinhos e sucesso :*

    Ps:
    Ameei a Foto do GrêNal *-*
    Grêmio.bjs ♥ q

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  11. Simplesmente muito lindo.
    simplesmnte isso e tudo mais que não se pode dizer em voz alta nem se pode escrever, pelo simples motivo de que só se pode ouvir.

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  12. Lindo! Ela sabe usar tão bem as palavras... Fiquei sem palavras...
    Quase choreei!
    Beijooos...
    Jerri, visite meu blog http://segredosdeumdiarioazul.blogspot.com/

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