Nesta bela graphic novel de 280 páginas que demorou dois anos para ser produzida, Daniel Galera e Rafael Coutinho demonstram que os Quadrinhos nacionais chegaram à sua maturidade.
Sinopse
Uma velha grávida, um decadente ator chinês no Brasil, um escultor apaixonado pela sua arte, um rapaz adepto do bondage, um playboy de moral duvidosa, um escritor e sua ex-mulher... Personagens que não se cruzam, mas que se entrelaçam em sua humanidade.
Os Autores
Entrevista com os autores na Palavraria, em Porto Alegre (RS), onde eu estive para garantir meu exemplar autografado ;-)
Daniel Galera foi um dos precursores do uso da internet para a literatura, editando e publicando textos em portais e fanzines eletrônicos entre 1997 e 2001. Foi um dos convidados da segunda edição da Festa Literária Internacional de Parati (FLIP), em 2004. Já publicou quatro livros, além de ter participado em algumas antologias de contos. Seu último livro ganhou o Prêmio Machado de Assis de Romance, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional em 2008. ATÉ O DIA EM QUE O CÃO MORREU (2003) foi adaptado para o cinema em 2007 com o título CÃO SEM DONO, com direção de Beto Brant.
Rafael Coutinho se formou em Artes Plásticas pela UNESP em 2004. Produziu curtas-metragens como animador e diretor (AQUELE CARA (2006) e AO VIVO (2008), e participou de importantes publicações como quadrinista (BANG BANG - ed. Devir-2005, CONTOS DOS IRMÃOS GRIMM - ed. Desiderata). Foi integrante do grupo Base-V, produzindo murais, exposições e publicações de arte experimental. Desde 2007, expõe pinturas, desenhos e esculturas na Choque Cultural.
A Graphic Novel
Para quem curte cinema como eu, CACHALOTE imediatamente remete a dois grandes filmes: SHORT CUTS de Robert Altman e AMORES BRUTOS de Alejandro González Iñárritu.
E a boa notícia é que não fica nada a dever para nenhum desses dois. Se transformado em película, CACHALOTE seria um daqueles filmaços de 3 horas de duração que imediatamente se transformaria em cult movie, se bem dirigido.
O storyboard está pronto e os diálogos são tão naturais, dinâmicos e despojados que não carecem do nenhum tratamento adicional. Como num filme de Hal Hartley.
O roteiro de Galera, com colaborações do ilustrador Coutinho, nos coloca em realidades tão conhecidas quanto distantes de nossas vidas razoavelmente pacatas. Supondo aqui que a maioria dos leitores desse blog não são uma velha grávida, um ator chinês, um escultor, um(a) adepto(a) do bondage, um playboyzinho e um escritor deprimido.
Mas por mais diferentes e incomuns que sejam alguns desses personagens, suas motivações, dúvidas e necessidades são os da maioria dos seres humanos ditos normais e funcionais: a busca pelo prazer, pelo amor, pela realização pessoal, seja ela qual for.
A Cachalote que dá título ao livro está lá, às vezes de forma literal, às vezes simbólica ou onírica e segundo os autores, aplicando-se a já velha visão pós-moderna, cabe a cada um entendê-la como quiser. Eu nem vou dizer o que a baleia representa para mim para não arriscar passar por burro...
O traço preto e branco de Coutinho (filho de Laerte, fui saber a pouco) nos mostra um mundo bonito habitado por pessoas de aparência feia e/ou patética . Para quem está acostumado a quadrinhos mais tradicionais, onde todos tem rosto e corpo de modelos, os personagens de CACHALOTE nos jogam na cara a realidade do corpo humano da pessoa comum, ou seja, nós mesmos. Nem mesmo a garota mais linda da narrativa toda tem um corpo belo. E seu rosto nunca é mostrado...
Lembrando em algo os originais traços do desenhista francês François Bouq, Coutinho, claro, tem um estilo que rivaliza com o dos melhores profissionais da área.
Considerações Finais
Tinha pensado em escrever sobre cada um dos personagens e suas desventuras, mas isso implicaria em descrever e comentar algumas cenas chaves da narrativa e eu odeio quando leio esse tipo de coisa em resenhas e críticas.
Então, minha sugestão é que, se você gosta de narrativas não-convencionais, bizarras e sobretudo, honestas e verdadeiras; leia logo essa obra-prima do quadrinho nacional. Coisa que raramente acontece por aqui...
Ah, sim. Cachalote em inglês é Sperm Whale. Fica a dica... ;-)
A misteriosa narrativa do escultor assediado por um cineasta que escreveu um roteiro de ficção que contém elementos demais de sua própria vida é a mais intrigante da obra.
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Usado
Boa leitura.
Parece ser excelente.
ResponderExcluirVocê sempre traz dicas ótimas.
Beijos!!